JOSÉ ANTONINO DE LIMA 
Tibério
Tibério

 

Tibério Cláudio Nero César (em latim Tiberius Claudius Nero Cæsar; 16 de novembro de 42 a.C. – 16 de março de 37 d.C.), foi imperador romano 18 de setembro de 14 até a sua morte, a 16 de março de 37. Era filho de Tibério Cláudio Nero e Lívia Drusilla. Foi o segundo imperador de Roma pertencente à dinastia Júlio-Claudiana, sucedendo ao padrasto César Augusto.

A sua família aparentou-se com a família imperial quando a sua mãe, com dezenove anos e grávida, se divorciou do seu pai e contraiu matrimônio com Octávio Augusto (38 a.C.). Mais tarde, ele casou-se com a filha de Augusto, Júlia a Maior. Foi adotado formalmente por Augusto a 26 de junho de 4 d.C., passando a fazer parte da gens Julia. Após a adoção, foram-lhe concedidos poderes tribunícios por dez anos.

Ao longo da sua vida, Tibério viu desaparecer progressivamente todos os seus possíveis rivais na sucessão graças a uma série de oportunas mortes. Os descendentes de Augusto e Tibério continuariam a governar o Império durante os próximos quarenta anos, até a morte de Nero.

Como tribuno, reorganizou o exército, reformando a lei militar e criando novas legiões. O tempo de serviço passou para os vinte anos (16 anos para um pretoriano ou guarda imperial). Após cumprir o tempo de serviço, os soldados recebiam um pagamento, cujo valor provinha de um imposto de cinco porcento sobre as heranças.

Porém, posteriormente, inimistou-se com o imperador Augusto, e viu-se obrigado a exilar-se em Rodes. Contudo, após a morte dos netos maiores de Augusto e previsíveis herdeiros do Império, Caio César e Lúcio Júlio César, ambos desterrados por traição do seu neto menor, Agripa Póstumo, Tibério foi chamado pelo imperador e nomeado sucessor.

Em 13 d.C., os poderes de Augusto e de Tibério foram prorrogados por dez anos. Contudo, Augusto faleceu pouco depois (19 de agosto de 14 d.C.), ficando Tibério como único herdeiro. Tibério sucedeu a Augusto em 19 de agosto de "767 ab urbe condita", correspondente ao ano 14 d.C. Após a sua entronização, todos os poderes foram transferidos para Tibério.

Tibério converteu-se num dos maiores generais de Roma. Nas suas campanhas na Panônia, Ilíria, Récia e Germânia, Tibério assentou as bases daquilo que posteriormente se tornaria a fronteira norte do Império. Contudo, Tibério chegou a ser recordado como um obscuro, recluído e sombrio governante, que realmente nunca quis ser imperador; Plínio, o Velho chamou-o de "tristissimus hominum" ("o mais triste dos homens"). Após a morte de seu filho, Júlio César Druso em 23, a qualidade do seu governo declinou e o seu reinado terminou em terror. Em 26 d.C., Tibério auto-exilou-se de Roma e deixou a administração nas mãos dos seus dois prefeitos pretorianos Lúcio Élio Sejano e Quinto Névio Cordo Sutório Macro. Tibério adotou o seu sobrinho-neto Calígula para que o sucedesse no trono imperial.

  

Juventude

  

Origens

 

Tibério Cláudio Nero Germânico Augusto (Tiberius Claudius Nero Germanicus Augustus) nasceu a 16 de novembro de 42 a.C., em Roma. Era filho de Tibério Cláudio Nero e Lívia Drusilla, sendo irmão de Druso. Em 38 a.C., a sua mãe divorciou-se do seu pai e casou-se com o imperador Caio Júlio César Octaviano pouco depois, enquanto estava ainda grávida de Nero Cláudio Druso, que nasceu três meses depois do casamento, em 38 a.C.

Há poucos dados sobre a juventude de Tibério. Em 32 a.C., realizou a sua primeira aparição pública com a idade de nove anos ao emitir a oração fúnebre pela morte do seu pai biológico. Em 29 a.C., tanto ele como o seu irmão participaram no desfile triunfal do seu pai adotivo, que comemorava a derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Actium. Em 26 a.C. Augusto ficou gravemente doente, instalando-se a ameaça do mundo romano cair novamente no caos. Embora os historiadores antigos defendam a teoria de que Marco Vipsânio Agripa ou Marco Cláudio Marcelo poderiam sucedê-lo aquando da sua morte, o assunto sucessório converteu-se no maior problema de Augusto.

Como resposta, selecionou uma série de possíveis herdeiros, entre eles Tibério e o seu irmão Druso. Em 24 a.C., com dezessete anos de idade, Tibério começou na política sob comando de Augusto, sendo nomeado questor. Foi-lhe concedido o direito de se apresentar às eleições de cônsul e pretor cinco anos antes da idade requerida pela lei. Os mesmos direitos foram concedidos ao seu irmão Druso.

  

Carreira civil e militar

 

Pouco depois, Tibério iniciou na corte a sua carreira como advogado, e é de supor que foi nesse momento que despertou a sua paixão pela retórica grega. Em 20 a.C. Tibério foi enviado ao Oriente sob o comando de Agripa com o objetivo de recuperar as águias das legiões que os partos arrebataram a Marco Licínio Crasso (Batalha de Carrhae, 53 a.C.), Lúcio Decídio Saxa (40 a.C.) e Marco Antônio (36 a.C.). Após vários anos de negociação, Tibério liderou uma potente força ao interior da Armênia com o objetivo de tornar o antigo reino num estado-cliente de Roma e criar com isso uma ameaça sobre a fronteira parta. Augusto chegou a um compromisso segundo o qual eram devolvidos os poderes ao Reino permitindo-lhe permanecer neutral entre os dois poderes.

Após regressar do Oriente em 19 d.C., Tibério casou-se com Vipsânia Agripina, filha do melhor amigo e general de Augusto, Marco Vipsânio Agripa. Foi nomeado pretor e enviado, no comando das suas legiões, a unir-se às campanhas do seu irmão Druso no Ocidente. Enquanto Druso centrou as suas forças na Gália Narbonense e ao longo dos Alpes, Tibério combateu as tribos dos Alpes e da Gália Transalpina. Em 16 a.C. descobriu a fonte do Danúbio e cruzou-o pela metade do seu curso. Quando voltou para Roma em 13 a.C., Tibério foi designado cônsul, e por volta desse mesmo ano nasceu o seu filho Júlio César Druso.

A morte de Agripa em 12 a.C. elevou Druso e Tibério na escala sucessória. Tibério solicitou a Augusto divorciar-se da sua esposa e casar-se com Júlia a Maior, filha de Augusto e viúva de Agripa. Este matrimônio implicou um ponto de inflexão na vida de Tibério. O matrimônio com Júlia nunca foi feliz e produziu um só filho que faleceu durante a infância. Segundo antigas fontes, um dia Tibério foi para a casa de Vipsânia chorando, para lhe rogar o seu perdão. Pouco depois acordou com Augusto que Tibério e Vipsânia nunca se voltariam a encontrar. A carreira de Tibério continuou crescendo e, depois das mortes de Agripa e do seu irmão Druso em 9 a.C., converteu-se num claro candidato à sucessão. Em 12 a.C., foi-lhe concedido o comando dos exércitos da Panônia e da Germânia, províncias muito instáveis. Regressou a Roma e foi designado cônsul pela segunda vez em 7 a.C. e em 6 a.C. concederam-lhe poderes tribunícios (potestas tribunícia) e o controle do Oriente.

  

Retiro em Rodes

 

Em 6 a.C., quando estava prestes a assumir o comando do Oriente e a tornar-se assim no segundo homem mais poderoso de Roma, anunciou a sua retirada da política e mudou-se para Rodes. Os motivos desta repentina retirada não são claros. Antigos historiadores especularam com a possibilidade de Tibério sentir-se como uma solução provisória quando Augusto adotou os filhos de Júlia e Agripa, Caio César e Lúcio César e os favoreceu ao longo da sua carreira tal e qual fizera com Druso e com o próprio Tibério. O futuro imperador pode ter pensado que quando os seus enteados atingissem a maioridade substituí-lo-iam. Também pode ter influido o conhecido comportamento promíscuo da sua esposa. Segundo Tácito, foram motivos pessoais os que impulsionaram Tibério a retirar-se para Rodes, onde começou a odiar a sua esposa e a ansiar pela sua ex-esposa Vipsânia. Tibério encontrava-se casado com uma mulher que o aborrecia, que o humilhava com as públicas escapadas noturnas que protagonizava, e que o proíbia ver a mulher que amava.

Independentemente dos motivos de Tibério, a retirada foi desastrosa para os planos sucessórios de Augusto. Caio e Lúcio estavam ainda na adolescência, e Augusto, que contava então 57 anos, não tinha um sucessor imediato. A retirada de Tibério punha em perigo uma transferência pacífica de poder após a morte de Augusto e deixava de existir a garantia de que, após a morte do princeps, o poder seguiria nas mãos da sua família ou dos aliados da sua família.

Certas histórias apócrifas relatam que quando Augusto caiu gravemente enfermo, Tibério navegou para Roma e desembarcou em Ostia ficando a saber que Augusto sobrevivera. Tibério voltou para Rodes e dali enviou várias cartas ao imperador solicitando voltar a Roma, coisa que Augusto negou em diversas ocasiões.

                                   

 Herdeiro ao trono

 

Com a retirada de Tibério, a sucessão recaía exclusivamente nos dois novos netos de Augusto, Caio e Lúcio César. A situação tornou-se de repente mais precária com a morte de Lúcio no ano 2. Augusto, a pedido de Lívia, permitiu a Tibério regressar a Roma, mas apenas como cidadão romano. No ano 4, Caio faleceu na Armênia e Augusto não teve outro remédio senão recorrer a Tibério.

A morte de Caio em 4 d.C. foi o começo duma frenética atividade palaciana. Tibério foi adotado como filho e herdeiro de pleno direito. Por seu lado, Tibério viu-se obrigado a adotar o seu sobrinho, Germânico, filho do seu irmão Nero Cláudio Druso e de Antônia Menor. Tibério recebeu poderes tribunícios e assumiu parte do maius imperium de Augusto, algo com o que nem Agripa fora recompensado. No ano 7, Agripa Póstumo foi repudiado por Augusto e exilou-se na ilha Pianosa, onde viveu confinado em solitário. No ano 13, os poderes de Tibério igualaram os do próprio Augusto. Tibério tornou-se co-princeps e, caso Augusto morresse, apenas deveria sucedê-lo com normalidade.

Augusto faleceu em 14 d. C., com 76 anos de idade.Augusto foi enterrado com todas as cerimônias estabelecidas e deificado. Tibério, por seu lado, foi confirmado como único sucessor.

 

 

Imperador

 

 Primeira etapa

 

Conforme o método de Augusto e às aparências que ele tomara a princípio frente ao senado, Tibério teve a precaução de evitar pôr em evidência a extensão do seu poder pessoal. Decidiu não adotar o nome de Imperator: apenas acrescentou o apelido de Augusto ao nome de Tibério Júlio César, que tinha desde a sua adoção; e, nas inscrições e moedas o nome de Tiberius Caesar Augustus sucedeu ao de Imperator Caesar Augustus. Jamais deixou outorgar-se o título de pai da pátria.

Mas, atrás desta atitude aparentemente escrupulosa, afastava-se na realidade cada vez mais das instituições republicanas. Tibério decidiu transferir a nomeação dos magistrados dos comícios para o senado. Com isto os comícios perderam uma atribuição muito importante, e desapareceu o sistema eleitoral próprio da República Romana. Curiosamente, acabar com este direito da cidadania não foi difícil. Na realidade, fazia tempo que as assembleias populares estavam desacreditadas, pois tinham-se mostrado caprichosas, servis e incapazes de tomar decisões, logo tinham deixado de ser a representação do povo romano.

O imperador designava candidatos para algumas das magistraturas, e os lugares que ficavam vagos (sem proposta do imperador) eram designados pelo senado e formava-se uma lista única. As assembleias populares ou comícios (que se continuaram celebrando até o século III) limitavam-se a aclamar a lista única. As leis eram promulgadas sem intervenção das assembleias. De fato, o povo somente conservava o poder num aspecto: o seu favor ou a sua hostilidade eram determinantes para os imperadores, e expressavam-se nas grandes celebrações do circo.

Estas medidas, pareciam reforçar o poder do senado. Mas Tibério procurou uma série de compensações. A mais importante foi a aumentar o corpo da guarda pretoriana de três coortes para nove e a construção de um acampamento permanente para elas chamado castra praetoria num arrabalde da cidade.

O senado promulgou várias leis, entre elas uma sobre o estatuto social das mulheres que tivessem relações sexuais com escravos, uma sobre tutela, uma sobre penas por deterioração de edifícios públicos, normas sobre julgamentos criminais, castigos de escravos que estivessem presentes numa casa quando o amo fosse assassinado, e uma lei de herança das mulheres (os filhos da qual eram preferentes aos seus irmãos ou parentes).

O senado adquiriu uma função importante a respeito das províncias: a atuação dos senadores como jurados nos casos de concussão (Repetundae), isto é, de aquisições ilegais por parte dos governadores e funcionários públicos provinciais (aparentemente, os juízos de Repetundis foram frequentes). Também julgava os delitos de traição ou de lesa majestade.

À categoria de senador podiam aceder aqueles que possuíam terras no valor de um milhão de sestércios, os quais procediam em grande parte da ordem dos cavaleiros. Assim, a maioria dos que tinham a categoria de senador (embora nem todos exercessem o cargo, que era eleito) constituíam uma casta hereditária à qual somente podia aceder-se desde outras classes por designação imperial direta ou indireta.

 

 

 Institucionalização dos cargos

 

Para chegar a ser senador era necessário ter exercido previamente as magistraturas seguintes:

O vigintivirato (vinte pessoas cada ano), ao qual se acedia a partir dos dezoito anos, e que eram uns superintendentes para as rendas das fábrica de moedas e outras funções.

O tribunado militar.

A questura (vinte questores anuais), à qual se acedia a partir dos vinte e cinco anos, e que auxiliavam os procônsules ou governadores provinciais em matérias de finanças.

O tribunado da plebe, ao qual se acedia aos 27 ou 28 anos, com direito de veto em certos assuntos públicos. Esta magistratura ficou vazia de conteúdo político com a consequente perda de poder das assembleias a que presidia o tribuno da plebe.

A pretura (dez pretores anuais, aumentados depois até dezoito), à qual acediam com trinta anos, e que comportava o governo de uma província de segunda ordem e o comando de uma legião (propretores), ou o desenvolvimento de uma pretura especial (do Erário, etc.). Os pretores tinham funções judiciárias e designavam árbitros em causas civis.

O consulado (dois cônsules ordinários e mananiciais auxiliares), ao qual se acedia a partir dos quarenta anos. As funções do cônsul eram presidir ao Senado e às Assembleias e, em alguns casos, administrar justiça.

Procônsules ou governadores provinciais, que governavam as províncias senatoriais de primeira ordem, com poderes consulares (cívico-militares).

Após exercer todas ou parte destas magistraturas chegava-se à categoria de senador. A maioria dos senadores eram italianos, procedentes da classe senatorial.

 

 Direitos e funções do Imperador

 

O Imperador (Princeps) dispunha de todos os poderes de um tribunal (Tribunicia potestas), dos quais tinha um procônsul no governo das províncias (poder que o Imperador podia exercer em qualquer parte do território), e seguramente dos poderes de um cônsul, pois se o desejava ostentava o cargo de Consul ordinarius. Era, além disso, Pontifex Maximus e com frequência exercia também as funções censoriais (embora não ostentasse o título de censor, magistratura "ressuscitada" por Cláudio). Eram-lhe atribuíam várias qualificações: Pater Patriae, Princeps Senatus, Imperator e Augustus.

 

O Imperador tinha ao seu serviço os funcionários públicos seguintes:

  • Os leitores (assistentes ou escoltes).
  • Os pretorianos, unidades militares reagrupadas numa unidade especial ao serviço imperial, que prestava o seu serviço nos quarteis gerais ou . Constituíam a guarda pessoal do e tinham à frente o (na época de Tibério desempenhava este cargo Élio Sejano, quem foi depois o seu ministro). Pretoris Imperator Praefectus Praetorius
  • Os , corpo de cavalaria com funções de escolta e comunicação de mensagens.Speculatores
  • Os empregados, escravos e libertos imperiais, constituídos por milhares de pessoas diversas destas condições, que realizavam as tarefas domésticas e de serviço das residências imperiais, sendo o cargo mais influente o de Cubicularius.

O Imperador dispunha das seguintes rendas, que constituíam o Fiscus:

  • As procedentes das suas propriedades pessoais.
  • Os legados e heranças de cidadãos (o que começou por ser um costume, mas que com alguns imperadores derivou para uma obrigação).
  • O saque de guerra.
  • O ouro oferecido por cidades e províncias.
  • Provavelmente uma parte dos bens sem herdeiros que eram compartilhados com o Aerarium (as finanças públicas).

As propriedades do imperador (terras, palácios, vilas na Itália ou nas províncias e outras), parece que passavam ao seu sucessor, até mesmo não sendo parentes. Os cidadãos e as comunidades podiam dirigir-se ao Imperator, consultavam-no sobre questões legais e recebiam resposta. No tempo de Tibério os tributos às províncias exigiam-se com moderação e as leis aplicavam-se com justiça.

O imperador exerceu também como censor, e encarregou a realização do censo às províncias (instituído já por Augusto). Entre as leis que aplicou figuram as seguintes:

  • Limite de despesas em jogos e espetáculos.
  • Limite no luxo de móveis.
  • Ordem que estabelecia que os ágapes tinham de ser consumidos inteiros, e obrigava que a carne e outros alimentos sobrantes fossem consumidos em comidas posteriores (era costume deitar fora até a metade de um animal do qual já se tivesse comido uma parte).
  • Proibiu o costume de se beijar cada dia.
  • Proibiu demorar para além das calendas de janeiro os presentes de princípio de ano.
  • Um conselho de família castigaria as adúlteras que não tiveram acusador público.
  • Proibiu aos magistrados adquirir mulher por sorteio e depois repudiá-la.
  • Proibiu os ritos egípcios e judeus.

 

 Auge e queda de Germânico

 

Os problemas militares, por sua vez, surgiram depressa para Tibério: as legiões da Panônia e Germânia não receberam as primas prometidas durante o reinado de Augusto e, após um breve período de tempo em que assumiram que não haveria resposta por parte de Tibério, amotinaram-se.Germânico e o filho de Tibério, Júlio César Druso foram enviados para a região à cabeça de uma força com o objetivo de sufocar a rebelião.

Germânico, porém, reuniu os amotinados e liderou-os numa breve campanha ao longo do Reno, em território germânico, afirmando que qualquer pilhagem que pudessem conseguir constituíria a prometida prima.  Germânico e o seu exército cruzaram o Reno e ocuparam todo o território entre esse rio e o Elba. Tácito escreve que Germânico recuperou as águias perdidas após a ignominiosa derrota na Batalha da floresta de Teutoburgo, na qual três legiões romanas, sob comando de Públio Quintílio Varo, foram aniquiladas numa emboscada germana. Apesar da indolência militar de Tibério, Germânico proporcionara um duro golpe aos inimigos de Roma na Germânia, sufocara um amotinamento de tropas e ademais trouxera para Roma as águias perdidas. Estas heroicas ações posicionaram Germânico num lugar privilegiado na linha sucessória.

Após a sua campanha na Germânia, Germânico celebrou um triunfo em Roma em 17 Este triunfo era o primeiro que contemplava Roma desde os do imperador Augusto em 29 a.C. Em 18 d.C., foram concedidas a Germânico as províncias orientais do Império, como se tinha feito com Agripa e com o próprio Tibério. Esta nomeação supunha que Germânico era o claro favorito para suceder a Tibério. Germânico faleceu ao ano seguinte, provavelmente envenenado pelo governador da província da Síria, Cneu Calpúrnio Pisão. Os Pisoni tinham sido partidários dos Claudii e haviam-se aliado com o jovem Octaviano após o seu casamento com Lívia, a mãe de Tibério; portanto o imperador estava suspeitoso. No juízo, Pisão ameaçou implicar Tibério, embora não se saiba com certeza se realmente o governador da Síria seria capaz de implicar o imperador. Quando se generalizou no senado uma atitude hostil contra Pisão, este suicidou-se. Tibério, pela sua vez, parecia estar cansado da política. Em 22 d.C., começou a compartilhar poderes tribunícios com o seu filho Druso, o Jovem e começou a realizar excursões à Campânia que se tornavam mais longas cada ano. Em 23 d.C., o filho de Tibério faleceu em estranhas circunstâncias e Tibério decidiu retirar-se para a ilha de Capri (26).

 

 

Tibério em Capri, Sejano em Roma

 

Lúcio Élio Sejano tinha servido a família imperial por mais de vinte anos quando foi eleito Prefeito do pretório em 15 d.C.. À medida que Tibério ia detestando mais a sua posição no poder, começou a depender com maior intensidade da guarda pretoriana e do seu líder Sejano. Em 17/18 d.C., Tibério delegou à guarda pretoriana a tarefa de defender a cidade, e transladou-os a acampamentos situados no exterior das muralhas da cidade, dando com isso a Sejano o comando de entre 6.000 e 9.000 soldados. A morte de Druso elevou Sejano ao olhos de Tibério, que se referia a ele como "o meu companheiro". Tibério erigiu estátuas de Sejano por toda a cidade e foi retirando-se gradualmente do poder que foi cedido a Sejano. Quando Tibério se retirou finalmente em 26, Sejano estava ao cargo da administração do Estado e da capital.

A posição de Sejano não era exatamente a de um sucessor, pois pedira a mão de Livila, a sobrinha de Tibério em 25, e ficara obrigado retirar a solicitude sob pressões. Sejano e a guarda controlavam o correio imperial e portanto estavam em posse de toda a informação que Tibério enviava a Roma e que Roma enviava a Tibério. Contudo o poder acumulado, a presença de Lívia Drusilla limitava a área de ação dos pretorianos, porém, a sua morte em 29 d.C. mudou tudo. Sejano iniciou uma série de juízos amanhados de senadores e ricos cavaleiros procedentes da ordem equestre com os que eliminou todos os seus rivais políticos e aumentou o tesouro público (e o seu próprio). A viúva de Germânico, Agripina e dois dos seus filhos, Nero César e Druso César foram detidos e exilados em 30, falecendo posteriormente em suspeitosas circunstâncias.

 

Final

 

O assassinato de Sejano e os juízos por traição danificaram a reputação de Tibério. Após a queda de Sejano, a retirada de Tibério foi completa; o Império seguiu funcionado através da inércia burocrática estabelecida por Augusto, em vez de ser dirigido pelo princeps. Tibério tornou-se completamente paranoico e passou cada vez mais tempo isolado após a morte do seu filho. Enquanto Tibério estava retirado, segundo Suetônio, os partos iniciaram uma breve invasão, e as tribos dácias e as tribos germânicas do Reno realizavam incursões em território romano.

Tibério não fez disposições para garantir uma sucessão pacífica. Após a morte de muitos dos Júlios, dos seus partidários e do seu próprio filho, os únicos candidatos sérios para o suceder eram o seu neto Tibério Gemelo e o filho de Germânico, Calígula. Apesar de tudo, Tibério seguiu sem realizar nenhuma disposição sucessória e somente há notícias de uma tentativa no final da sua vida de nomear Calígula questor honorário.

Tibério faleceu em Miseno a 16 de março de 37 d.C. aos 77 anos. Segundo Tácito, a morte do imperador foi recebida com entusiasmo entre o povo romano, somente para silenciar-se repentinamente quando teve notícias da sua recuperação e voltar a regozijar-se quando Calígula e Macro o assassinaram. Contudo, os escritos de Tácito são provavelmente apócrifos pois não são confirmados por nenhum outro historiador antigo. O relato de Tácito pode indicar o sentimento predominante no senado para com Tibério no momento da sua morte. No testamento de Tibério, o finado imperador delegava a Calígula e a Tibério Gemelo o reinado conjunto.A primeira coisa que Calígula fez foi assumir os poderes de Tibério e assassinar Tibério Gemelo.

A queda de Tibério não se deveu ao seu abuso de poder, mas ao facto de negar-se a usá-lo. O seu reinado, apático comparado com o do seu predecessor, fez ganhar a animadversão do povo. O senado funcionara sob o comando de Augusto durante anos e, quando Tibério quis devolver-lhe a sua autonomia, este não soube agir sozinho. Após fracassar, Tibério pareceu ficar desinteressado da sua posição.

 

 

 

Fonte: www.wikipedia.org